Algumas palavras sobre como isso começou – e prá onde quero ir.

Déspotas mirins: o poder nas novas famílias é o nome do meu último livro publicado. Ele trata das relações entre os adultos e as crianças e causou um bom barulho – “do bem”. Até hoje continuo falando desse livro em entrevistas, palestras e artigos. Mas desloquei o foco dos déspotas mirins – isto é, das crianças – e passei a estudar as relações entre os adultos, incluindo as novas famílias.

Minha pesquisa de pós-doutorado era exatamente o livro só que com outro nome: Édipo Tirano: o feminino e o poder nas novas famílias. Há algumas décadas venho tentando entender essa história do feminino na nossa cultura. E, apesar das aparências afirmarem o contrário, homens e mulheres habitam o mesmo planeta. Se quero entender o que é o feminino tenho que estudar também o que é a virilidade ou simplesmente o que são mulheres e homens. Como são suas relações na família? No namoro ou na vida solteira? Ficam? Paqueram? Pegam? E a reclamação repetida sobre a escassez de vínculos mais sólidos: “homens querem sexo, mulheres querem paixão, romance, amor?”. E o alardeado “amor líquido”, amor digital facilmente deletável que caracterizaria esses nossos tempos?

Hoje nós gozamos o amor de maneiras muito variadas – “toda maneira de amar vale a pena”. Mas tanta reclamação me fez suspeitar que só nossa ideia de amor ficou imune aos sinais do tempo.

Ano passado tive que dar um tempo nessa pesquisa para escrever um outro livro na sequência dos Déspotas mirins: o poder nas novas famílias. Por essa época eu já andava estudando como é que Cupido anda flechando os incautos no século XXI.  Depois que terminei de escrevê-lo (será lançado esse ano) voltei ao velho Cupido que, pelo que dizem as más línguas, anda muito mal das pernas, cansado e já sem muitas flechas. Ou, quem sabe?, foi vencido por Afrodite.

Uma vez criei um grupo fechado no facebook para conversarmos sobre um tema que eu havia sido convidada a abordar em uma crônica (publicada com o nome “Quem seduz quem?”) e que era a polêmica da hora: as mulheres odiariam ser cantadas. O grupo era formado por gente de idade, atividade, sexo/gênero, experiência e opiniões bem diferentes e ali dentro o pau comia de uma maneira muito interessante. O pessoal sugeria novas questões para eu desenvolver e trazia boas notícias para eu comentar, como na outra que chamei de “Amor Nécessaire”. De novo vi que essa estória dos nossos relacionamentos amorosos dava mesmo muito pano prá manga. Agora poderia retomar o grupo prá explorar questões para meu novo livro.

Em vez disso resolvi aceitar a ideia de fazer um blog onde posso perguntar: e você, tem alguma estória prá me contar, alguma pulga atrás da orelha – uma pedra no sapatinho que não é tão maravilhoso como aquele que o príncipe calçou na Cinderela?

Publicado por

Marcia Neder

Marcia Neder é psicanalista com Pós-doutorado em Psicologia Clínica pela PUC-SP, pesquisadora e autora de vários artigos e livros. Seus últimos livros publicados são: "Os filhos da Mãe" lançado em maio pela Editora Leya/Casa da Palavra e "Déspotas mirins: o poder nas novas famílias" (Editora Zagodoni).

25 comentários em “Algumas palavras sobre como isso começou – e prá onde quero ir.”

  1. Marcia,
    O Amor sólido, líquido, digital … ou a falta dele interessa sempre, a todos nós, que amamos de todas as maneiras… Afinal, “qualquer maneira de amor vale a pena”, não é isso que diz aquela canção que a gente gosta muito??
    Mas olha, cá entre nós, ando mesmo é sentindo falta de um xodó, de um namorico, um beijinho gostoso, de um homem bonito. Mas eu bem que desconfiava e…
    Acertei na mosca: ao ler alguns anos atrás um livro da Miriam Goldenbergh – acho que é assim que escreve o nome da antropóloga carioca – confirmei o que vinha constatando: a sensação, de uns quase 10 anos pra cá, é de que nós mulheres ficamos transparentes ou invisíveis depois dos 50.
    Novos amores, paqueras??
    Vige! Difícil, hein…
    Melhor inventar hobbies, passear, estudar, viajar com os amigos e as amigas, viver a vida sem investir tanto nessa tecla.
    E a vida (que delícia!), tem os seus encantos 1000. Mesmo sem o danado do xodó, daquele príncipe do cavalo branco que virou sapo e foi andar por aí…
    Beijos

    1. Ruthinha,
      Isso mesmo, é o que diz essa velha canção que lembrei no post.
      Bem, sabe que essa falta de um xodó não acontece só com as mulheres depois dos 50? A queixa é democraticamente distribuída por todas as idades (veja meu próximo post). O que não invalida o que você disse sobre as mulheres pós-50, já que, supostamente, esse momento seria (e era antes não?) marcado pelos netos: a mãe “naturalmente” tornava-se avó. Nossa geração faz parte da novidade (nova idade), que é a das mulheres que querem mais do que continuar acompanhando sua linha sucessória. São essas mulheres que, como você, como eu, estão a fim de curtir seus hobbies, viajar, estudar – mas também querem o xodó. Você me fez lembrar de uma amiga, a Alessandra, cujo comentário eu publiquei numa dessas crônicas a que me referi no post (dá uma olhada no Amor Nécessaire acima). Ela – que está longe dos 50 – tem ouvido essa reclamação das amigas que apontam nos gringos a solução. De qualquer modo esse é um bom tema, vou continuar pensando. Beijo.

      1. Ruthinha, tô testando aqui o novo recurso: quando respondo seu comentário você recebe a notificação por e-mail. Quero saber se tá valendo também pros comentários antigos. Recebeu?

  2. Cara Marcia,

    que maravilha estar diante do seu blog. E já antecipo as deliciosas histórias que encontrarei por aqui. Cinderelas sonhadoras, solitárias desiludidas… todas temos desencantos, encantos…
    E sei que os esperados príncipes também. Como devem sofrer, diante de tanta expectativa!
    Daí, vamos encucando e talvez deixando de curtir…o que quer que seja!
    Sucesso!
    Sua fã,
    Cristiana

    1. Cristiana, obrigada! E olha só seu comentário indo direto a um dos pontos que temos que tirar da toca: as Cinderelas sonhadoras com suas expectativas elevadas talvez assustem os esperados príncipes que, como você disse, devem sofrer e… sair correndo. Acho que você tem toda razão: o resultado é essa sensação tão familiar nas conversas, nas leituras, em todo lugar: um desencanto com um encontro que parece nunca acontecer, uma impossibilidade de curtir o vivido, uma insatisfação com o trivial simples. Enfim, a conversa só está começando e fico muito feliz com você aqui na inauguração. Um beijo.

      1. Cris, tô testando aqui o novo recurso: quando respondo seu comentário você recebe a notificação por e-mail. Quero saber se tá valendo também pros comentários antigos. Recebeu?

  3. A despeito do presente e do futuro do flerte eu nada sei, mas posso afirmar que as flechas do cupido continuam assaz afiadas… Estou apaixonado pelo post! Um verdadeiro regozijo de leitura! Melhor que isso só encadernado em capa dura com mais de 150 páginas! Parabéns por mais esse passo rumo a ilha! <3

    1. Ivo querido,
      poeta também! Veja só o homem de mil qualidades. Não bastasse isso, um homem apaixonado! E pelo meu post também, que delícia seu comentário, aconchegante e animador. Obrigada querido e sim, foco na ilha!!! Um beijo.

      1. Querido, tô testando aqui o novo recurso: quando respondo seu comentário você recebe a notificação por e-mail. Quero saber se tá valendo também pros comentários antigos. Recebeu?

  4. Marcia, estava sentindo falta de nossas saudáveis e quentes discussões! O blog permitirá uma maior interlocução entre você e seus leitores, sua cara! Desejo muitos desejos pra você e seu blog! Conte comigo nas discussões!

    1. Juliana,
      Estou contando com você nas discussões sim! Nossas conversas calorosas e discussões animadas agora podem se dar neste espaço que amplia nossos interlocutores. Venha sempre. Um beijo, querida.

      1. Juliana, tô testando aqui o novo recurso: quando respondo seu comentário você recebe a notificação por e-mail. Quero saber se tá valendo também pros comentários antigos. Recebeu?

  5. Primeiro um destaque positivo sobre a escolha do assunto. Polêmico, mas muito interessante. Aos meus 60 anos eu já presenciei situações em que homens, com certeza frustrados em suas relações, denigrem a imagem daquelas com que mantiveram uma relação paralela. Seria insegurança quanto à masculinidade? Seria resultado de sua criação machista? Seria frustração por não ser aquela a mulher com quem gostaria de ficar? E aí por diante… Parabéns por mexer num assunto tão diverso.

    1. José Roberto,
      Pois é, acho que ser polêmica faz parte do meu ser e conto com os leitores, como você, para que sejam polêmicas esclarecedoras e que incentivem nossa reflexão. Aliás seu comentário é bem farto nesse sentido, oferecendo muitos pratos ao cardápio do blog. Ajudaria bastante se você me falasse mais da sua observação sobre os homens em suas relações paralelas. De qualquer modo e mesmo sem saber direito a que você está se referindo, você expressou bem alguns conflitos atuais vividos pelos homens e que dão uma boa conversa, como a “insegurança quanto a masculinidade” e a “criação machista”. Obrigada pelas palavras elogiosas e por trazer suas reflexões. Um beijo e volte sempre.

      1. José Roberto, tô testando aqui o novo recurso: quando respondo seu comentário você recebe a notificação por e-mail. Quero saber se tá valendo também pros comentários antigos. Recebeu?

  6. Márcia,q delícia….q satisfação…. Sempre nos coroando e nos presenteando com artigos tão encantadores ,temas de relevância ,trazidodes de forma tão generosa e agradável.Parabéns!!!!!

  7. Sou recém casado. Amo minha esposa. Temos ótimos momentos e outros também terríveis (como todo casal).
    Mas venho me perguntando e conversando com amigos: “Será que nossos casamentos vão durar como os dos nossos pais?”. Já que nossa bendita “Geração Y” não preservam mais coisas duradouras como, por exemplo, emprego. Não me vejo trabalhando mais de 2, 3 ou 4 anos no mesmo lugar, pois qualquer coisa que eu não concorde eu parto pra outro.
    Será que essa geração vai tratar o casamento virar isso também?

    1. Dener, sabia que estamos com uma novidade proporcionada por meu amigo e afilhado Dener? tô testando aqui o novo recurso: quando respondo seu comentário você recebe a notificação por e-mail. Quero saber se tá valendo também pros comentários antigos. Recebeu? ahahahah um beijo, obrigada de novo.

  8. Amiga querida, você tem o poder de me rejuvenescer! Tive essa sensação quando nos reencontramos depois de tantos anos, e agora, lendo seu post , isso ficou muito mais forte. Passei muitos anos lendo seus escritos, começando pelos incontáveis e divertidos bilhetes que trocávamos todos os dias enquanto morávamos a menos de 100 metros de distância, estudavamos na mesma sala a manhã toda e passávamos as tardes juntas na minha casa ou na sua. Parece que isso prova o quanto sempre tivemos pra conversar . Nos anos em que você esteve no Rio fazendo a faculdade, juntando nossas cartas super divertidas e atualmente quase indecifráveis, daria um livro bem robusto! E agora, tanto tempo depois , você me apresenta seu blog delicioso … A esta altura da minha vida é muito bom ter esta certeza que você me rejuvenesce e me alegra sempre . Continue escrevendo, porque é muito bom, divertido e leve , saborear o que você escreve!

    1. Silvia, é bom escrever e tocar as pessoas com as palavras. Tocar suavemente, prefiro, em vez dessa pancadaria que tá na moda. Parece que ter “opinião formada sobre tudo” – e, preferencialmente, de uma maneira muito agressiva, arremetida na cara das pessoas, tornou-se uma espécie de afirmação da própria existência, pelo menos da existência psíquica – a famosa e velhinha “auto-afirmação”. Por isso gosto tanto de ler e comentar os leitores que se permitem singelamente ser tocados por minhas ideias. Obrigada! Um beijo.
      PS: tô testando aqui o novo recurso: quando respondo seu comentário você recebe a notificação por e-mail. Quero saber se tá valendo também pros comentários antigos. Recebeu?

    1. Que coisa boa ter gostado, Gilberto! Afinal, a sua edição da poesia do Neruda – “Te Necessito” – foi essencial para o último post que acabei de publicar, como fiz questão que você visse avisando-o que usara o seu link. Muito obrigada por ter me visitado aqui, por suas palavras animadoras e venha sempre me visitar (já se inscreveu para receber as atualizações?). Um abraço.

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