“Não estou preparada hoje, e nunca estarei”

18:53 agora vc não vai mais sumir, vai ?

18:55 a menos que me escondam, não kkkkk. Vou estar sempre pertinho M… qdo precisar, grita, qdo quiser, chama.

19:03 acho bom, “ainda não estou preparada para te perder/ não estou preparada para que me deixes só (…) Ainda não estou preparada para não te ter e apenas te recordar / Ainda não estou preparada para não poder te ouvir ou não poder te falar / Não estou preparada para que não me abraces / e para não poder te abraçar / Ainda te necessito / E ainda não estou preparada para caminhar pelo mundo perguntando-me: Por quê? / Não estou preparada hoje nem nunca o estarei / Te necessito”. Eu também (clique para assistir: https://www.youtube.com/watch?v=mMaEwuneu70).

19:34 Ainda não estou preparada para te perder hoje, meu amor, e nunca o estarei.
Myrna tem razão: “Ora, a vida ensina, justamente, que duas criaturas que se amam sofrem, fatalmente. Não por culpa de um ou de outro; mas em consequência do próprio sentimento. É exato que os amores têm seus êxtases deslumbrantes, momentos perfeitos, musicais etc. etc. Mas eu disse ‘momentos’ e não as 24 horas de cada dia. Quando uma mulher apaixonada se queixa, eu tenho vontade de fazer-lhe esta pergunta: ‘Não lhe basta amar? Você quer, ainda por cima, ser feliz?’”

19:38  prazer e angústia são os dois lados da mesma moeda. Mesmo esses momentos “perfeitos e musicais” têm sua dimensão de angústia tão bem traduzida por esses versos do Neruda. É o que lembra a expressão “petite mort” (pequena morte) usada pelos franceses para o momento de maior prazer sexual (orgasmo).

19:44 Pascal Bruckner, filósofo francês contemporâneo, perguntou se Fracassou o casamento por amor? – nome do seu último livro, onde tenta saber porque houve esse aumento do número de divórcios. Concluiu que o casal naufragou por excesso de carga. Você lembra do Bateau Mouche, aquele barco que afundou na Baía de Guanabara no réveillon de 1988 justamente por causa da superlotação? É isso: nós sobrecarregamos o casamento com a idealização do amor romântico. E não há casal que consiga manter ao mesmo tempo essa fervura da fusão amorosa e a rotina da vida; a educação das crianças e a ebulição permanente.

20:51 Bruckner joga o bote salva-vidas para os náufragos: vamos parar com essa idealização do amor e limitar os ideais do casamento. Já tá de bom tamanho se o casal valorizar o respeito mútuo, a amizade, a parceria e as afinidades (fundamentais, a meu ver, quando o que está em pauta é a educação dos filhos). Simples né? Sei lá. O cara é francês e parece que por lá essa separação pode funcionar, porque as infidelidades conjugais não seriam um drama. A França teria criado sua forma própria de amar, segundo uma historiadora americana, da qual fazem parte traição sem culpa e relações abertas.

20:56  Eu não sei, ainda tô estudando isso. Vejo que mesmo no século XXI muitos de nós andamos sonhando e tentando realizar essa ideia de amor que floresceu plenamente nos últimos 3 séculos no Ocidente e que os historiadores chamam de “amor romântico”. A Myrna encarna bem essa idealização amorosa em choque com o varejo da vida. Olha isso: Antonieta, moça recém-casada, escreveu perguntando quanto tempo dura uma lua de mel. Conheceu uma felicidade ímpar durante todo o namoro; sua vida era como uma novela, um romance, um filme de amor. A lua de mel trouxe uma felicidade ainda maior, “se é que isso é possível”. E pronto: a partir daí a vida entrou no modo casada, com sua rotina exasperante e monótona. Então ela começou a se perguntar: “Mas é isso o casamento? É isso o amor?” Concluiu que tinha uma noção falsa do amor. Myrna discordou e deu-lhe uma bela bronca: Antonieta não sabe nada do amor porque a verdade do amor é que a lua de mel é eterna.

21:00 Antonieta, expondo na sua carta a decepção por não conseguir viver o vulcão do amor em sua vida de casada, parece dar voz a Bruckner né? E Myrna levanta a bandeira do “amor romântico”, saudando a dissolução de si (do eu) na fervura da fusão. O que é também uma pequena morte (de si).

21:13 Será que amor e casamento são a mesma coisa? Penso muito sobre isso. Também acho importante essa sobrecarga do casamento observada por Bruckner. Uma coisa é a história do amor; outra, a do casamento. E outra, ainda, é a nossa história pessoal, profundamente enraizada na cultura: nós nos tornamos quem somos na cultura e pela cultura. Não dá prá pular sobre nossa sombra. Ou até pode ser que dê, mas dá um trabalhooo! Se é verdade que somos os latin lovers, o povo caliente do sangue fervente, será que hoje conseguiríamos abrir mão da paixão amorosa em nome desse casamento morno, embora eficiente em seus objetivos? Tenho cá minhas dúvidas. A paixão à margem do casamento, essa é a aposta do filósofo francês.

21:16 Antonio Banderas disse que latin lover (amante latino) é uma invenção de Hollywood. Não seríamos nada disso e ele próprio se vê como um romântico. Mas não foi precisamente nas canções, na poesia, na literatura, nas artes que nasceu esse ideal de amor romântico que até hoje perseguimos – ainda que às custas da realidade cotidiana do casamento? E se hoje em dia esse personagem do amante latino, passional e apaixonante, atraente e conquistador, estivesse em busca de um homem para encená-lo, certamente muito poucos o recusariam a Banderas (Clique aqui para assistir:  https://www.youtube.com/watch?v=6lAKlYTQVKY)

Publicado por

Marcia Neder

Marcia Neder é psicanalista com Pós-doutorado em Psicologia Clínica pela PUC-SP, pesquisadora e autora de vários artigos e livros. Seus últimos livros publicados são: "Os filhos da Mãe" lançado em maio pela Editora Leya/Casa da Palavra e "Déspotas mirins: o poder nas novas famílias" (Editora Zagodoni).

Um comentário em ““Não estou preparada hoje, e nunca estarei””

  1. Pra mim, o que melhor define a vida , a minha existência , é ainda não estou preparada …
    Você deve ter vindo ao mundo com a missão de me fazer mergulhar nas profundezas das dúvidas e certezas. As duas grandes certezas do momento são : 1- você deve continuar sua missão,
    2- eu te odeio.

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