Os filhos da mãe, as viagens, os amigos: o amor no plural

OS FILHOS DA MÃE - CAPAEm maio do ano passado publiquei meu último livro, Os Filhos da Mãe (Ed. Leya/Casa da Palavra). É um livro escrito em primeira pessoa sobre a maternidade propondo reflexões do tipo “ser ou não ser” e, principalmente, como ser mãe – e, claro, pai também já que o homem tem sido cada vez mais solicitado a assumir a paternidade, quando não é ele mesmo que faz questão de desfrutar de uma intimidade com os filhos, entrando em um terreno considerado exclusivamente feminino.

Com as histórias da maternidade, da criança e da mulher é possível descobrir de onde e desde quando vem a maneira como nos relacionamos com nossos filhos e o modo como vemos a mãe. Ideias que alguns acreditam muito avançadas e que acabam por se revelar prolongamentos de uma ideologia que há 3 séculos luta para se consolidar. E, como outrora, as regras que elas impõem continuam a ser aceitas, recusadas ou adaptadas por cada um conforme a classe social a que pertence, o país e a região em que vivem e as opções que cada um faz para sua vida – com ou sem culpa.

Sendo muito mais permeáveis ao modo norte-americano de pensar e de vier, nós sequer percebemos a origem datada e politica e geograficamente situada, de pensamentos e costumes que nos parecem universais. Ou confiamos tanto em noções mil vezes repetidas, como “a globalização”, que a ela alienamos nossa capacidade de pensar com nossas próprias cabeças – e botamos os pés pelas mãos.

Lançamentos dos Filhos da Mãe na Livraria Argumento,  Rio de Janeiro
Lançamentos do livro “Os Filhos da Mãe” na Livraria Argumento, Rio de Janeiro.

Enfim e já que somos todos filhos da mãe, o livro é voltado para todos. Embora, indubitavelmente, seja artigo de primeira necessidade para mães e candidatas. E para mães de mães, já que filhos crescem e novamente nos vemos (ou nos veremos) confrontados com outras tantas escolhas.

Ao longo de todo o livro vou “conversando” com músicas, poesias, filmes, obras da cultura enfim, que nos ajudam a entender melhor quem somos. Embora um desses filmes, queridinho de muitos, ocupe um espaço privilegiado na minha exposição, muitos outros são por mim lembrados e comentados.

GABI - SISSI - MARINAComo de praxe, o lançamento do livro foi acompanhado de um intenso trabalho de divulgação e debates em entrevistas, palestras, participação em programas de televisão e afins. Assim, à época de publicar o primeiro post de novembro no blog eu fui à Feira Literária de Porto Alegre onde conheci pessoalmente alguns dos leitores. A Rafaela, que já tinha me encontrado através do meu site, me apresentou a Gabi, a Sissi e a Marina. Foi muito bom e uma boa surpresa saber da grande afinidade que a Gabi sentia com meu pensamento, porque estudava em uma instituição cuja referência eram também as ideias do psicanalista Jean Laplanche e de Freud.

JULIA - ADRIANO - EU EM BOSTONQuando voltei de Porto Alegre o post ainda teria que esperar porque embarquei em seguida para uma visita à família nos Estados Unidos. Com a Julia e o Adriano comemoramos lá o Thanksgiving e, como nos anos anteriores, meu irmão seguiu nos apresentando aquela belíssima e histórica região da New England (Nova Inglaterra) onde os Estados Unidos começaram a nascer. Muitos posts seriam necessários para contar sobre cada lugar por onde o Beto nos levou – lugares que contam a história americana, como o museu de história ao vivo sobre a vida em um vilarejo na Nova Inglaterra de 1830 (Old Sturbridge Village https://www.youtube.com/watch?v=2L_0VDUOW3Q) onde assistimos a ordenha do rebanho, o trabalho dos ferreiros forjando uma ferradura, do artesão fabricando potes de argila, das mulheres preparando tortas, pães, carne e outras iguarias para o café da manhã, a indústria têxtil com a história da legislação sobre o trabalho infantil (Massachusetts foi o Estado pioneiro) e tantos outros detalhes da vida naquela época.

Em outro dia num museu em Boston a guia nos surpreendeu ao fim do nosso pequeno tour: queria comentar a simplicidade da nossa mais ilustre figura na região – Gisele Bünchen – que ela havia visto passeando na calçada com seu cachorro.

EMILY E EUDepois fomos para Nova York rever amigos e visitar nossos “lugares de estimação”. Por muito pouco não reencontrei a Emily no mesmo trem, onde nos conhecemos no ano anterior. Como continuamos em contato nós já havíamos combinado um encontro – no trem, em Boston ou em Nova York. Restavam os poucos dias nessa cidade e ela, muito querida, foi até o bar em frente ao meu hotel e me explicou porque só teríamos aquele dia: na manhã seguinte iria para Washington para um compromisso familiar na Casa Branca, pois era dia do presidente americano fazer a foto com a família dela, como fazia com todos os seus funcionários, e a irmã da Emily fazia parte da sua equipe.

De volta ao Brasil e passadas as festas de final de ano, eu ainda precisava atender ao convite do editor de uma revista que tenho na mais alta estima e entregar-lhe o artigo prometido. Só então pude voltar ao blog e retomar nossas animadas conversas sobre o amor. Depois de tudo que contei teria sido possível recomeçar de outro modo que assim, com o amor no plural?

Publicado por

Marcia Neder

Marcia Neder é psicanalista com Pós-doutorado em Psicologia Clínica pela PUC-SP, pesquisadora e autora de vários artigos e livros. Seus últimos livros publicados são: "Os filhos da Mãe" lançado em maio pela Editora Leya/Casa da Palavra e "Déspotas mirins: o poder nas novas famílias" (Editora Zagodoni).

6 comentários em “Os filhos da mãe, as viagens, os amigos: o amor no plural”

    1. Que bom, Keiloca… vindo da minha amiga das letras é um carinho e tanto. Só comparável à satisfação imensa de ser lida por você e de podermos aproveitar esse espaço para seguir conversando. Beijo saudoso.

  1. Vale muito a pena ler o livro. Tenho-o recomendado e todos têm gostado. Porque é bom…. Valeu, minha amiga! Aguardando o próximo. Sobre os pais? kkkkkkkkkk Beijobeijo

  2. Marcia, aqui é Tânia Nascimento outra vez. Não consegui me comunicar com o Alberto. Mandei email ,mas no obtive retorno. Como você me deu essa liberdade, peço que dê a ele o meu email tanianascimentoarte@gmail.com e, se possível peça para ele entrar em contato. Sucesso com o livro. Vou lê -lo e depois comentá -lo. Obrigada, Bjs.

  3. Olá Márcia. Encontrei o seu livro em uma feira de livros no Shoppin Recife. Foi o destino literalmente. Encontro-me em uma montanha russa de sentimentos desde o nascimento do meu primeiro filho, hoje com sete anos. Dei conta que esqueci de mim e agora estou tentando entender tudo isso. Não conclui a leitura ainda, mas não foi à toa que encontrei o seu livro. Grande abraço.

  4. Querida Marcia, como assim você não tem um botão de “curtir” na sua página? rsrsrs eu curti esse teu texto. Porém, mais legal do que curtir é a possibilidade de deixar um comentário 😉 Para minha alegria, encontrei seu livro em uma loja virtual portuguesa. Gosto do tema e desse olhar histórico, que situa no tempo e no espaço nossa própria vida, nossas “certezas”. Refletir é preciso! Ainda ontem, num seminário, ouvi algo que me fez pensar muito; falava-se da importância de a educação ser um processo contínuo ao longo da vida, ideia completamente diferente daquela que impera em tantos países, como no nosso Brasil, de uma educação que só encontra sentido e apenas se remete ao mundo do trabalho. Como se só valesse a pena investir se o lucro estivesse garantido, como se tudo o mais fosse nada. É realmente revoltante essa mudança no currículo das escolas, entre outras coisas. Tiraram a possibilidade de as pessoas construirem a reflexão e a crítica… Essas que nos tornam mais generosos e menos carrascos (de nós mesmos e de outros). Enfim, fica aqui meu beijo e a alegria de seguir te acompanhando, “te lendo”, você que tanto me ajudou e me ajuda a pensar.

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