Por que se levar tão a sério Mr. Grey?

Em 2005, Steve Jobs terminou seu belíssimo discurso na Universidade de Stanford com um conselho para a turma que o escolhera como paraninfo: “Stay hungry. Stay foolish” (clique para assistir https://www.youtube.com/watch?v=s9E6XfJPAMM).

A tecnocracia, que engessa até mesmo nossos cursos de ciências humanas e sociais, nunca foi a praia desse homem que usou a tecnologia para transformar nossas vidas. Ele disse: a tecnologia sozinha não cria; a criação que produz o resultado que faz nosso coração cantar surge do casamento da tecnologia com as “liberal arts” e as “humanities” e essa união está no DNA da Apple. O homem inquieto e apaixonadamente criativo, que fez de cada obstáculo um desafio, não separou a vida do prazer de criar e de brincar. A cada anúncio de uma nova descoberta o menino-criador se diverte com mais uma travessura, numa alegria contagiante. (clique para ver a homenagem da Apple a seu fundador https://www.youtube.com/watch?v=wW2g2SHmrOA).

Era nele que eu pensava enquanto pesquisava a contracultura, tão importante em suas escolhas. Como outros contemporâneos, eu também me pergunto como nos tornamos tão caretas depois de atravessarmos tantas revoluções em nossos costumes? Era esse “o” futuro que esperávamos com ansiedade e sonhos de ficção, como Uma Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick de 1968 – um ano antes, portanto, do primeiro homem pisar na Lua (Neil Armstrong, julho de 1969)?

Relendo obras de ativistas feministas americanas do mesmo período, notei, curiosa, que aquilo que em leituras anteriores tinha achado uma caricatura, era já a fermentação dessa intolerância nas relações homens-mulheres, hoje plenamente desabrochada no “fundamentalismo erótico”. Seu ativismo intolerante, belicoso, excludente que leva jornalistas, críticos literários, psicanalistas e ensaístas feministas norte-americanos, ingleses, franceses, canadenses a se perguntarem qual o lugar deixado ao amor heterossexual por essa geometria rígida e raivosa das relações entre os sexos – questão que já comecei a abordar em meu novo artigo que acaba de ser publicado pela Revista Inteligência, Madame Butterfly, Madame Simone: uma máscara para a misoginia? (p. 148 http://insightinteligencia.com.br/pdfs/76.pdf) que recomendo fortemente.

Para você ter uma dimensão da riqueza e da diversidade de pensamentos, atitudes e questões que florescem nesse campo lembro que, em 1963 Simone de Beauvoir escreveu, em um de seus livros autobiográficos e quase trinta anos depois de publicar O Segundo Sexo, que evitou se encerrar “naquilo que se chama de feminismo”.

O que você acha? O assim chamado “feminismo” está matando o amor? A autonomia da mulher é inconciliável com o “romance” heterossexual?

50 tons de cinzaDe minha parte o que observo é que as novas relações que homens e mulheres estabelecem permitem a cada sexo ir e vir pela posição do dominador e da dominada – pelo menos quando se coloca sua relação em termos de poder… A esse respeito 50 Tons de Cinza é um filme cujo sucesso é uma boa ilustração do problema. Você não tem que escolher entre curtir o romance de Anastasia e Christian Grey ou curtir a valorização, as liberdades e os direitos das mulheres; rótulos não me interessam, dogmas – venham de onde vierem – bloqueiam o pensamento próprio. Como disse Steve Jobs no discurso em Stanford, seu tempo é limitado, não o desperdice vivendo o que os outros esperam de você, não caia na armadilha do dogma. Não deixe o barulho das vozes e opiniões alheias silenciar a sua própria voz. Pense, leia, leia muito porque o pensamento não brota no deserto.

Também não concordo com a crítica de que o filme incitaria a violência contra a mulher. Essa crítica repete o equívoco que resultou na “limpeza” imposta aos contos e canções infantis: decretou-se o fim do “atirei o pau no gato”, da bruxa, do monstro e de tudo o que se supõe exaltar a violência das crianças. Iniciada com a proibição do tratamento de “tia” à professora imposto entre nós pela teoria nem tão unanimemente festejada de Paulo Freire. Tentativas vãs de recusar às fantasias um lugar na realidade psíquica, cujo funcionamento é complexo demais para se deixar definir como simples reflexo da realidade social e compartilhada.

Anastasia é um exemplar da vida sexual silenciada pelos “bons costumes” que, felizmente, se expressa livremente na relação terapêutica (e nas confidências entre amigos). Daí seu sucesso inegável junto às mulheres independentes dos nossos dias: Anastasia pode brincar de dominada sexual, se for o caso, vestindo a fantasia da submissa (masoquista) que a cultura atribui à mulher.

Antes de ver 50 Tons de Cinza neste final de semana e já tendo lido e ouvido muito, imaginava que encontraria em Anastasia “a submissa”, “coitada”. Mais uma realidade desprezada aqui: a existência das tribos organizadas de BDSM (basta um google it e essa ilusão se desfaz). Terminado o filme não era bem por aí que meu pensamento teimoso errava. Afinal ela não é livre para entrar e sair da posição da “dominada”? Tanto é que, depois de travar uma luta com ela mesma, acaba caindo fora. Liberta-se da sua ambivalência e diz não ao homem pelo qual deseja ser amada, apesar do medo de perdê-lo e de abrir mão do prazer que também sente com suas brincadeiras. Pena que a força do seu “não” é diminuída pela ideia que E. L. James tem da sexualidade: Anastasia encarnaria a sexualidade “normal”, ao contrário da “anormalidade” de Christian, revanche contra a violência sexual da qual teria sido vítima.

Christian não ri, não brinca e se há um mestre implacável em cena, este parece ser o desejo que o escraviza e que o leva à repetição obsessiva do mesmo ritual, através do qual projeta em Anastasia sua submissão – não por acaso bem especificada no “contrato” que ele faz tanta questão de impor. Impelido por impulsos sexuais sádicos que ele tranca a sete chaves no seu quarto de brincar, onde guarda sua coleção de brinquedos que mais sugerem poder de comprar do que de se jubilar, é difícil diferenciar Christian Grey de um robô.

50 tons de cinza

A ambivalência de Anastasia a humaniza. Em Christian, ela só começa a dar sinais quando o filme está perto do fim. É com uma convicção cada vez menos convincente que Mr. Grey manifestará sua recusa às carícias de Anastasia, à proibição dela tocá-lo, a sua fuga ao envolvimento que poderia permitir que seus sentimentos aflorassem. Até onde Christian Grey lutou, até onde cedeu, até onde se rendeu, ou se efetivamente essa ambivalência encontra lugar no personagem ou se é fruto da minha interpretação só quem já leu a trilogia poderá responder. O que você acha? Aguardo seus comentários: quem sabe eles não serão bússolas a me orientar no(s) próximo(s) post(s)?  (Inscreva-se aqui no blog para ser notificado a cada nova postagem).

Publicado por

Marcia Neder

Marcia Neder é psicanalista com Pós-doutorado em Psicologia Clínica pela PUC-SP, pesquisadora e autora de vários artigos e livros. Seus últimos livros publicados são: "Os filhos da Mãe" lançado em maio pela Editora Leya/Casa da Palavra e "Déspotas mirins: o poder nas novas famílias" (Editora Zagodoni).

8 comentários em “Por que se levar tão a sério Mr. Grey?”

  1. Marcia! Adorei o texto. Vi que vc me marcou na publicação e óbvio que entendi a conexão. Hoje mesmo eu estava pensando sobre um dos assuntos abordados acima: até onde vai o meu ativismo e em que ponto ele conflita com a minha liberdade? Recentemente tenho recebidos críticas negativas sobre os filmes que assisto e as coisas que leio/gosto de algumas amigas feministas “radicais”. Um dos exemplos é a trilogia dos 50 tons… outro mais recente é sobre “A Bela e a Fera”, que teoricamente – na história original – minimiza a mulher, mostra uma relação abusiva entre a bela e a fera e traz uma história bem bisonha no olhar realista. Não consegui chegar numa conclusão, mas de uma coisa eu tenho certeza: sou livre pra gostar e pensar o que quiser. E uma coisa não anula a outra, eu posso sim ser feminista e lutar junto com milhares de mulheres pela igualdade e ao mesmo tempo, se assim desejar, ser uma “Anastasia”. Ou gostar de ler sobre a Anastasia.

    Sobre o romance também percebo que não é só aquela relação que todo mundo enfatiza de submissão ferrenha. O legal da história é que entre a submissão de Anastasia e a relação com Grey existe um universo de coisas que acontecem entre eles que vão moldando a forma como Christian enxerga o amor. Aaaaai eu adoro esses livrossss… hahaha. Assista o filme 2, mas se tiver mesmo curiosa, te empresto meus livros um beijo! Adorei o texto, tem tudo que eu gosto – Apple, 50 tons, feminismo e suas nuances! Até falaria mais sobre, porem não quero dar spoilers!

    1. Laís, fazer perguntas é essencial e seu comentário já começa muito interessante por isso, porque você está se perguntando sore esse conflito entre viver um “ativismo” ou pensar com a sua experiência e a sua cabeça: pelo meu post você já sabe a minha resposta. O que são “críticas negativas”? Aliás, fiquei interessada em saber que escolhas são essas que você tem feito e quais as “críticas negativas” que recebeu das suas amigas “feministas radicais” – que não sei o que são também. Resisti o quanto pude a ver os 50 tons porque achei que não teria saco, porque tenho certa rejeição a esse tipo de literatura best-seller feito prá vender etc. Mas ossos do ofício me levaram ao filme e … parece que fiz tanto por ele que amigas que não o viram/leram acabaram se interessando, conforme e disseram! Quero mais sugestão de filmees, de temas dessses aí que você parece me sugerir – mas preciso que especifique. Não tema spoilers, e vou tentar a Bela e a Fera mas aí meu caso é o musical… não sei se aguento, vamos ver. Me dê mais opções…

      1. Críticas do tipo “nossa, inadmissível vc gostar de um filme como 50 tons. Isso é um ultraje ao feminismo. Esse tipo de filme deveria ser boicotado” tipo… me deixa em paz, sabe? rs A pessoa se quer se interessa sobre a história e sai falando besteira. O mesmo aconteceu sobre a bela e a fera. E aí aquela pulga atrás da orelha: será que eu realmente estou “alimentando” uma cultura que diminui a mulher diariamente e ainda vende isso como entretenimento? Não sei responder a pergunta, mas por enquanto eu faço o que ainda me da vontade rs

        Sobre o filme, SPOILER ALERT:

        a história é baseada em como ambos conhecem o amor, A Anastasia de um modo carnal, prazeroso, puro sexo. Uma coisa nova pra ela, que ela nunca tinha experimentado, tinha medo/receio e acaba gostando. Acaba se descobrindo que pode se aventurar em novas experiências, que às vezes não tem problema ser vulnerável e estar disposta a se “machucar” pelo prazer. O mesmo acontece com Christian, porém no que diz respeito ao amor. Amar abertamente para ele é muito doloroso, tanto quando alguns dos brinquedos de sua sala de jogos, e é isso que as pessoas em geral não entendem no filme, porque não está tão claro assim. No livro você tem toda a passagem de Ana inocente pra Ana carnal… e de Christian carnal pra Christian inocente.. apaixonado, bobo, vulnerável… isso me deixa fascinada nos livros. Como duas pessoas podem mudar tanto em nome do amor <3 ou da necessidade de ser amado? Fica a dúvida, de novo. Hahahahaha um beijo!

  2. Acredito que o feminismo atual está distorcido. Antigamente, o feminismo foi usado para criar direitos das mulheres que antes não existiam. Havia um expressivo preconceito com a mulher na sociedade, a qual deveria somente ser dona do lar e mãe!! Com o feminismo antigo, garantimos vários direitos e mesmo assim ainda sofremos alguns preconceitos. Porém, ao meu ver, todos sofremos… Uns sofrem por ser magro demais, outros por ser gordo. Uns por serem brancos, outros por serem negros. Não adianta, no mundo sempre haverá alguém discriminado, oprimido e sendo injustiçado.
    O papel da mulher e do homem se inverteram e até se igualaram. Vejo pai (homem) cuidando de filhos melhores q muitas mães. Homens q ajudam as mulheres em casa, lógico ainda há aquela mãe que é “pãe” e muitos pais relapsos. Mas vejo grande evolução na família atual.
    Sobre 50 tons de cinza (amo muito), vejo um romance. Ao ler toda a trilogia, verifiquei que o Crhistian Grey é uma pessoa muito traumatizada, quando jovem era violento, mas que canalizou suas energias para o sexo sádico após ter sido seduzido por uma mulher mais velha, que o ensinou a prática Sadomasoquista. Ao conhecer Anastácia, a qual não é adepta a prática, coloca ali as energias pra conquista-la. Faz com ela o que não fez com nenhuma submissa anteriormente. Vejo que ele se anulou muito para conquista-la e ficar com ela. Assim como ela se anulou de suas convicções para agrada-lo. E no fim, um relacionamento é isso. Um cedendo em prol do outro.
    Quando uma mulher independe, seja financeiramente ou emocionalmente vê em Anastácia uma heroína, é pelo achismo do poder que teoricamente Christian Grey fornece. Para Anastácia, nenhum dinheiro poderia comprar a dignidade dela que foi embora ao levar a punição. E ela se manteve firme até um pedido de desculpas e “novos termos” com o amado Grey, onde ela quer se aproximar emocionante dele, e ele permite pra não perde-la.
    Talvez, muitas mulheres aceitam ser “açoitadas” (seja fisicamente ou verbalmente) pelo parceiro por medo,mas aí vejo que é um problema de auto estima baixa ou simplesmente pela inércia, ou pelos filhos… Infelizmente sempre há uma desculpa.
    A mulher moderna pode entrar em sair de uma relação casual sem se apegar por puro prazer. Não tem necessidade de “relacionamento baunilha”, é auto suficiente. Ela se mantém, até que um “Anastácio” aparece e aceita como ela é. A mulher sempre foi dominadora. Ela usa tácticas para dominar a relação e (quase) sempre ganha.
    Talvez, muitos achem que o motivo que fez Anastácia aceitar a prática Sadomasoquista fosse pra manter uma oportunidade que ela teria de ter Cristian Grey. Mas ela o fez pq viu nele um homem que moveu céus e terra pra ela. A agrada o tempo todo, tanto no lado material como no emocional, a trata bem, cuida dela, se preocupa, foi fiel. No fundo, nós mulheres querendo ser tratadas por esta cortesia. Quem não gosta né?

    1. É Laura, parece que você é uma grande admiradora da Anastasia! E gostaria de entender melhor o que você está articulando sobre o que eu escrevi no post. Entendi que você faz uma crítica ao “feminismo” e fiquei meio na dúvida se não fui clara quando falei que há vários feminismos. A pergunta que você me coloca ao final é uma grande questão hoje e não parece óbvia não. Você diz “no fundo, nós mulheres…”. O que seria “esta cortesia”? O debate contemporâneo é acirrado: homem pode pagar a conta da mulher? A mulher espera isso? A mulher se ofende? E tantas outras coisas que seria preciso você me explicar melhor…

      1. Não foi uma crítica ao feminismo! Admiro o movimento e sinceramente agradeço as feministas que antigamente garantiram nossos direitos que hoje usufruo. Porém, acho que não me expressei bem ou não entendi o ponto onde voce quis chegar.

        Mas sinceramente, hoje, pelo que vejo, as atuais feministas, assim como outros grupos organizados estão distorcendo e não querendo mais direitos, e sim regalias. Está havendo muito extremismo. Porém, respeito o movimento.

        A cortesia Versa sobre o tratamento que o Cristian Grey deu para a Anastácia. Não sobre os açoitamentos nem investimento financeiro, mas o que ele fez para conquista-la e depois para mante-la por perto. Ele foi extremamente fiel, amoroso, cuidou dela, se preocupou, a ama incondicionalmente, faz os gostos dela, quem realmente nao quer uma relação que o homem faz isso, por isso disse que “no fundo” todas nós queremos isso!

        Mas pensando mais, colocando enfoque nas feministas, essa relação seria inaceitável, até porque Cristian é um controlador e (tenta) mantém Anastácia sob seu controle, até porque ela não aceita esse controle e é onde há várias discussões entre o casal e onde eles se ajustam.

        Está complicado responder suas perguntas Márcia. Sou casada há 10 anos. Quem paga a conta lá em casa, é quem leva a carteira. O dinheiro é um só! Mas nunca tive problema com isso, nunca esperei ninguém pagar minha conta. Mas nunca gostei que pagassem minha conta, seja amigo ou namorado. Me incomodo até hj com isso, com exceção ao meu marido. Rsrs

        Laís, adorei seu comentário.

  3. Marcia, o movimento feminista foi importante para nós, desamarrou nossas asas que, até então, estavam costuradas ao nosso corpo, com as linhas do ” mulher não pode fazer isso, aquilo…a mulher tem que ” ser dona de casa”, ” do lar”, cujos encargos eram dominar um fogão, organizar uma casa, fazer bolos, biscoitos, educar os filhos… Arrepio até hoje, ao lembrar desses encargos, por ser interna a vida inteira morria de medo de vestir ” este modelito”. Então as feministas ajudaram a mim, a minha geração. Fiz a Faculdade que quis, curso que quis,onde quis, casei com quem quis e fui feliz até a morte do meu marido, 24 anos e meio de casados.
    Concordo com a Laura, quando diz que o feminismo de hoje está distorcido. Sim, as feministas atuais pregam uma constante ” normose” do tem que ser assim, agir desta ou daquela maneira, caso contrário não são feministas. ” Voote!” Longe de mim práticas normóticas, gosto sim de homem cavalheiro, que abre porta, puxa cadeira para eu sentar, tanto gosto que eduquei dois nestes moldes e assisto ao sucesso deles e o quão são admirados, até, por muitas pregadoras do feminismo atual. Arrumam uma mesa e cozinham muito bem.
    Fiz o meu caminhar profissional, familiar, mãe, adoro cozinhar, receber, ensino minha neta e arrepio, ao ouvir das feministas que estou educando- a para servir um homem.

  4. Hello! Estou ensinando- a por que ela gosta. Servirá a quem quiser e se quiser. Me poupem.
    Pagar conta em restaurante, cinema, hotel? Cito a Laura novamente: ” quem levar a carteira paga a conta.” O dinheiro é dos dois.
    Não li, nem assisti a 50 Tons de Cinza por que, quando foi lançado, estava em outro momento de minha vida, mas amanhã comprarei e o lerei. Então, em outro momento, poderei dizer algo.
    Espero não ter fugido ao tema.
    Tenho procurado sim, não me levar tão a sério, afinal, a vida está voando ….

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