A encruzilhada

Na época que a Manuela nasceu, filha da minha filha, minha rotina mudou. Ficava em São Paulo uma semana por mês tentando conciliar minhas atividades, sem tempo nem cabeça para o blogue.

Quando voltei a sentir falta de escrever aqui e comecei a ensaiar um primeiro post, ele se multiplicava a cada tentativa de editá-lo. Eu me sentia um personagem do Buñuel em O Anjo Exterminador (1962), aquele filme que os convidados de um jantar de gala não conseguem deixar a mansão, embora nada na realidade os impeça; todas as portas estão abertas, mas todos são absolutamente incapazes de atravessá-las. E ali permanecem dias e noites confinados na sala com os anfitriões. Assim era eu, presa em um post sem que nada me impedisse de considerá-lo pronto para publicação. Exceto uma sensação imprecisa de que eu tinha esquecido alguma coisa ou, ao contrário, de que tinha falado mais do que poderia.

No filme, a intimidade compulsória que os convidados e anfitriões viviam no confinamento parecia invadida por um anjo exterminador que pôs fim a seus freios internos, derrubando a barreira da censura e exterminando sua força para reprimir seus impulsos. Ora ora, não é esse clima de liberou geral que imaginamos como sendo o nirvana ou o paraíso? Pois longe de trazer o supremo gozo, essa liberdade imperiosa dos nossos impulsos mais primitivos deu lugar aos comportamentos mais bizarros e insólitos. Assim dominados por seus impulsos e fantasias inconscientes, os comensais mergulharam na angústia e desorientação.

Já pelo final da primeira temporada do meu blogue eu também parecia invadida por esse anjo exterminador. Quanto mais mergulhava em mim através da minha escrita, mais profundamente cavucava minhas entranhas sem me dar conta do risco que corria. Quando vi, já tinha libertado meus demônios e fantasmas que vieram me assombrar e me causar perplexidade e confusão. Por essa época e sem notar, comecei a por o pé no freio como se precisasse tomar ar.

Foi também por aí que a Manuela nasceu aumentando a confusão, mas também organizando a bagunça que rolava dentro de mim; seu nascimento traduzia tudo na pergunta: quem sou eu? Quem sou eu, “avó”?

Poderia obturar essa fuzarca assombrada dizendo “sou avó”. Mas essa palavra me parecia esvaziada de sentido pelo uso, e genérica demais para expressar algo novo que eu estava sentindo e que não tinha a menor ideia do que era. Ou melhor, tinha várias. A expressão filha da minha filha surgiu espontaneamente, seguindo a trilha aberta pelos filhos da mãe.

Como Alice caindo na toca do coelho, despenquei curiosa no buraco vislumbrando vultos e restos de uma cultura nascida comigo. Peças, obras, monumentos dessa civilização antiga na qual, como Indiana Jones, eu chegava escavando um subsolo ao mesmo tempo estranho e familiar.

O presente que a Julia me dava no dia 16 de setembro chegou revirando meu passado e lembrando o futuro, efeito que a escrita já tinha detonado. Nascendo nesse dia, a Manuela prolongava o balanço que eu já começara a fazer por ocasião do meu aniversário, dez dias antes.

E assim comecei a descobrir que dentre as tantas coisas que ela significa para mim, a encruzilhada protagonizava a cena e, como toda metáfora, fazia sonhar. A música Crossroads (encruzilhada), também conhecida como Crossroads blues, foi composta por Robert Johnson em 1936 e você pode ouvi-la sonhando nessa gravação original ao clicar nesse link do Youtube https://www.youtube.com/watch?v=kXFAlFqjSlM .

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Saí da confusão entendendo que a dificuldade para retomar o blogue não estava na falta do que falar, mas na dificuldade de não saber o que calar. Sem freios, entregue à falação interior, como poderia escolher o que falar e o que calar? “Para fazer uma omelete, é preciso quebrar ovos”, Freud gostava de citar. Quebrar a casca espalhaconteúdo em algum continente – no caso, o leitor. Não bastava traduzir a balbúrdia interna em uma linguagem compreensível; ela ainda teria que ser aprovada pela minha censura.

Lembrei de uma história que me aconteceu há alguns anos. Voando numa ponte aérea meu vizinho de poltrona me falava dos seus filhos e netos e de sua alegria de ser avô. De repente ele me perguntou:

– “E sua filha, “” tem filhos?”

“Não”, respondi, com um não quase gritado que nos levou a gargalhar. Ainda rindo muito ele me perguntou:

– “Mas o que é que você tem a ver com isso? Você já fez a sua parte, agora é com ela e o marido”.

– “É”, concordei.

Mas na verdade, dentro de mim o que eu ouvi mesmo foi um “será?”.

A essa altura você pode dizer que eu complico as coisas e nem tento discordar. Sei que complico, que não paro de fazer perguntas. Aliás, tenho sempre mais perguntas que respostas. Mas se complico é porque as coisas são complicadas, especialmente essa matéria prima que atrai meu interesse: o tal do ser humano.

Se eu disse para ele que tenho uma filha e um filho, por que, diachos, ele dirigia sua pergunta apenas a ela? Por que restringir o direito da minha filha escolher o destino a dar a sua vida? Então meu grito era um grito feminista, protetor da liberdade sexual da minha filha, mulher como eu e livre para gozar da sexualidade sem a obrigação da maternidade.

Mas ele deu ainda mais matéria para minhas caraminholas porque perguntou o que é que eu tinha a ver com isso. Quase nada, exceto o fato de ser mulher.

Naquela época eu escrevia Os Filhos da Mãe e a Julia nem falava sobre ter ou não filhos. Mas eu tinha amigas que já eram avós e acompanhava sua luta para conciliar suas vidas com a ajuda que davam aos filhos que tinham filhos. A história da Hilevi, que estava tão longe quanto eu de ser avó, é exemplar. B90C8AB7-ACD5-48AF-8AC9-50780F30FB8CHilevi mudou-se para os Estados Unidos com o marido e o casal de filhos pequenos há mais de vinte e cinco anos. Os filhos cresceram e foram morar em Chicago a alguns quilômetros dela. Poucos meses depois da Julia ter a Manuela, P., sua filha, também teve uma filha. E a avó teve que reorganizar sua vida de modo a permanecer em Chicago durante a semana para ajudar o casal, já que ambos trabalham e ambos precisam viajar por causa do trabalho. Havia algum tempo ela planejava vir ao Brasilcomeçou a se organizar para a viagem. Preparava-se para uma época que daria ao casal o tempo necessário para se reorganizar na nova vida com o bebê.

Com ela viriam o filho, que fazia residência em medicina e a nora, filha de pai americano e mãe brasileira que se tornara sua melhor amiga nos Estados Unidos. No entanto, há uns quinze anos essa amiga morreu deixando o marido e a filha única, M. Com a morte da mãe, M. tornou-se meio filha da Hilevi. E anos depois M., que sempre fora amiga dos filhos da Hilevi, seria também sua nora. Preciso dizer o quanto M. contava com a Hilevi?

Os planos de vir ao Brasil foram por água abaixo; enquanto a Hilevi ainda cuidava da neta em Chicago, M. ficou grávida. Tudo corria muito bem, M. continuava a ascender a cargos de direção no trabalho e o marido na residência já quase em fase final. Inesperadamente, porém, em uma viagem de fim de semana ao Texas, M. foi internada às pressas e o filho nasceu antes do previsto.

Sogra e meio mãe de M., Hilevi tornou-se também a âncora do neto, que teve que permanecer meses no hospital. Durante todo esse tempo ela se dividiu não mais entre sua casa e a da filha em Chicago, mas entre o hospital no Texas e sua casa.

Assim continuou mesmo depois do bebê ter alta e ser liberado para a viagem a Chicago com os pais. Porque, apesar da imensa ajuda que M. teve do seu trabalho durante todo esse tempo, não poderia mais dedicar-se tanto ao bebê em casa e ele continuaria a necessitar de atendimento especializado. Até que isso fosse possível Hilevi assumiu inteiramente seus cuidados enquanto a nora e o filho trabalhavam, inclusive preparando-se com um curso próprio para aprender a atender as necessidades do neto. A avó continuava a se dividir entre sua casa e a casa do filho em Chicago, onde passava a semana.

As fotos nesse post foram feitas pelo Gordon Walek (exceto a da capa, feita pela Hilevi). Nelas nós duas passeamos e curtimos Chicago antes de sermos transformadas em “avós”. Manuela nasceria pouco depois. Apresentei à Hilevi meus amigos Gordon Walek e sua mulher, Ruth Mugalian, profundos conhecedores da cidade, da sua história, seus museus, sua arquitetura, sua vida. Até rolou uma deliciosa comemoração pouco antecipada do meu aniversário nesses dias em que, sem saber, nos despedíamos de nossas vidas sem netos.

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Mãe é mãe, avó é avó mesmo?

– “Mas o que é que você tem a ver com isso? Você já fez a sua parte, agora é com ela e o marido”, disse meu companheiro de voo.

Será? Acho que consegui explicar a minha dúvida. Assim como fui levada a desidealizar a maternidade escrevendo Os Filhos da Mãe, também me mantive aberta às perguntas que me faço sobre o que significa ser avó. Em uma cultura na qual a mãe é laureada com títulos sagrados, seu neto só poderia ser essa “bênção” que todos falam. O problema é que, para variar, na mãe como na avó o que eu vejo sempre é uma mulher.

E a mulher não precisa ser idealizada como enigma, santa ou nascida para cuidar. Dotada de um útero pela natureza, ela própria encarna a encruzilhada. É claro que sempre se pode fazer de conta que o útero não existe, como também a maternidade. Foi o que fez o feminismo até aqui, privilegiando a relação da mulher com o homem. Mas aqui já estamos entrando num outro post.

Publicado por

Marcia Neder

Marcia Neder é psicanalista com Pós-doutorado em Psicologia Clínica pela PUC-SP, pesquisadora e autora de vários artigos e livros. Seus últimos livros publicados são: "Os filhos da Mãe" lançado em maio pela Editora Leya/Casa da Palavra e "Déspotas mirins: o poder nas novas famílias" (Editora Zagodoni).

21 comentários em “A encruzilhada”

  1. Marcinha acompanho você sempre…mesmo não sabendo muito das coisas quando jovem.
    sua importância é algo que me faz tão bem, que me emociono …
    quando leio você sinto como se estivesse ouvindo-a com sua voz unica.

    1. Jura, querido, é muito bom ter sua companhia assim, meu amigo. Muito muito bom mesmo. Como trabalho meses para conseguir chegar a um post que julgo pronto, saber que você o leu e que te tocou, é também muito importante para mim. Suas palavras me emocionam! Um beijo.

  2. Márcia li, atenta, o seu discurso. Alguns trechos me chamaram a atenção. Você descreve a interrupção do blogue, compara com o filme de Buñuel, a imperiosa barreira invisível que impedia que convidados e anfitriões saíssem, o relaxamento dos comportamentos, em pista livre para seus atos e a desorientação que essa libertação causava, já que se pensava que seria o paraíso. Ao escrever o blogue você confessa que também se expunha. Como falar e frear tamanha avalanche. Ou melhor, como censurar, o que fazer com os ovos “rompidos ” /quebrados? Fala da preparação do livro, dessa desconstrução do papel de mãe gloriosa , sacrificada, anulada nos seus desejos mais íntimos, que praticamente são incultidos em toda mulher . Fala da Júlia, casada e se espanta com a conversa no avião. “É a sua filha, já tem filhos?” Um sonoro não! Um pensamento: por que? por que a mulher? Entrou na encruzilhada! Avó/benção/ ajuda/adiamento de projetos/conciliação de obrigações profissionais/nova rotina. Aí vem o relato da sua amiga, já ocupada com a filha e a NETA, e posteriormente o filho/mãe-nora/NETO, novamente, tudo se repetindo, precisando se reorganizar espacialmente e profissionalmente. E tem mais essa AVÓ, tem que aprender a cuidar de maneira especial, o que já sabia pela prática anterior e pelo instinto. Só não caem nessa encruzilhada, aquelas que determinam não desejar a maternidade, privilegiando a liberdade e a sua relação com o parceiro (a). Acredito que este e o choque, como ser mulher, já estamos sabendo ou começando a saber, mas e AVÓ? O que embute nessas três letras? Uma dupla maternidade? É justo recomeçar quando, a liberdade acena para nós, sedutora? Ama-se incondicionalmente conjugando com algumas renúncias que já não estamos mais dispostas a fazer? Temos obrigações com escolas, balés, judô, explicadoras, etc.? O assunto continua, são 2:30h, aguardo sua resposta. Beijos.

    1. Tania, muito obrigada por sua leitura, sempre atenta, sempre perspicaz. Há mais, muito mais que tenho pra te dizer aqui. A encruzilhada é a própria mulher, minha querida. Para além das preocupações objetivas, das “tarefas” a executar, a uma mulher, uma vida a ser vivida – como eu digo em Os Filhos da Mãe: mulher também é gente. Nem que seja para ficar sem fazer nada, ela tem uma vida interior. Não importa se é mãe ou avó. As etiquetas transformam tudo em tarefas, “pappéis” e é muito mais do que isso. Beijo.

  3. Marcia querida, quando quase tive uma “ gangrena digital” estava com minha mãe, perto de Goiânia,que ainda insiste em viver com 102 anos, cadeira de rodas e sem controle de saliva, baba, mas ainda percebe e consegue limpar.
    Você fala com propriedade de profissional da mente, não consigo responder à altura. Minha área é o magistério, professora de Português. Contei a você que li pouco sobre a mente humana em minha vida, resumindo- se a livros da faculdade. Sei reconhecer uma criança, adolescente hiperativo, com olhos de professora e pedagoga, ou fruto de lar “ desestruturado”, não de pais separados, bem diferentes, você sabe. Lendo você passei a me interessar pela mente, mas ainda não comecei.
    Os Filhos da mãe ajudaram- me, mesmo sendo avó já e os recomendei para inúmeras amigas vovós por varias razões, inclusive de “ sacudir”, “ espanar”, abolir as culpas acumuladas.
    Mulher!!! Mãe! Avó! Quantas funções, sem falar no profissional. Minha vida não mudou muito quando me tornei avó, penso eu, exceto alguns fins de semana como babá, avó, momentos gratificantes e cansativos.
    Mudança aconteceu quando minha filha se divorciou, três filhos, ela pediu o divórcio, marido 14 anos mais velho…

    1. Zezé, sinto pela sua mãe e imagino você lidando com isso. Quanto a ser eu uma “profissional da mente”, ando tão encucada com isso que venho pensando o que poderia escrever naquela parte desse blogue, o “sobre mim”. Quero muito substituir essa apresentação, temo que ela intimide as pessoas em vez de atraí-las aos comentários. O que você acha?

      1. Marcia, lerei depois e darei minha opinião.
        Constatar, conviver com uma mãe longeva é bom, mas quando vejo minha mãe tão decadente, dependente, quase lúcida é de doer. Vejo, nos olhos dela, o sofrimento, a saudade dos dois filhos que já se foram, do meu pai, de toda a irmandade, pais. Para ser bem franca, acho que nós, filhos, netos, bisnetos preenchem mais este vazio doloroso. Difícil entender os desígnios de Deus.

  4. Então, minha filha, Psicóloga Comportamental, era casada com um Psicólogo na mesma área,PHD na área, 14 anos mais velho, procura por um pai. Teve 3 filhos e pediu o divórcio, após 9 anos de casada.
    Foi um divórcio difícil, passou e nem vale a pena mencionar.
    Mudanças minhas? Muitas, não pelo divórcio por que eu o esperava desde o primeiro ano do casamento- percepção de mãe, sexto sentido? Sei lá.
    Eu fui tomando conta da minha filha, dos meus netos, saí do meu AP de 320 m ( não sei colocar o 2 de quadrado), fui morar com ela para ajudar, para acarinhar, queria ser mãe, pai, avó. Engordei 10 kg, baguncei nosso relacionamento, enfim o que meus filhos e amigas previram aconteceu.
    Reverti o quadro, voltei para minha casa, emagreci, voltei a nadar, a ler, escrever, cozinhar, viajar… Refizemos nossa relação, que hoje é ótima, ajudo quando sou necessária, curto muito os netos de longe, de perto, acordando espiralada por dormir com três. Enfim, percebo foi tudo muito difícil, mas conseguimos viver aquela fase, com muita confusão de sentimentos, muita terapia. Hoje atravesso a fase de avó “ quase invisível” para dois adolescentes e avó solicitada para um. Quem disse que ser mulher é fácil. Beijos, Marcia.

    1. Larga experiência, Zezé. Seu entusiasmo com os Filhos da Mãe muito me alegra, sempre te falo. E achei muito legal você esclarecer isso: mesmo sendo avó vc se identificou com ele. E não é? Pois só somos avós porque somos também mães. O movimento feminista da segunda metade do século passado e ainda nesse nos deixou desguarnecidas em relação à maternidade – e sobre isso já tenho material para um próximo post, prosseguir nessa reflexão embora não como tema central. Pensou muito na relação da mulher com o homem, como acho que escrevi neste mas nada sobre a criança. Exceto que ela é um obstáculo à liberdade das mulheres – o que nem precisamos pensar muito para constatar. O “padecer no paraíso” seguiu incólume, às que resolveram ser mãe. E ficamos com uma batata quente que eu tento descascar com Os Filhos da Mãe. E como somos mães das mães (ou pais) dos nossos filhos, continuamos a carregar uma herança sobre a qual o nascimento da Manuela me levou a pensar. A história que você conta sobre você, sua filha, sua mudança de casa, seus netos, é o retrato claríssimo da situação que resumi naquele “será?” respondendo ao meu colega de vôo. Será que avó é avó e mãe é mãe? Beijo, Zezé (você pode me avisar se recebeu uma notificação dessas minhas respostas? Checa sua caixa de spam também pois vc deve receber um e-mail de notificação).

  5. Aguardo aqui comentários feitos ontem, dia 05/10, no final da noite. Não os encontrei mais para que pudesse faxer uma releitura. Estão em algum canto, mas me recordo que poderia ser um novo post, tal a riqueza de reflexões. Onde estão essas mulheres que reivindicam e a covardia de adesão à causas tão pertinentes e próximas das suas realidades.? Beijos

    1. Tania, vou procurar esses comentários a que você se refere porque não os vi. Você tem certeza de que não os fez no facebook? De qualquer modo vou procurar. Você manda o comentário e ele vem para a caixa de entrada controlada por mim: eu tenho que aprovar um por um – para rejeitar spam. Tão logo alguém posta aqui um comentário eu sou notificada por e-mail. Da mesma maneira você tem que ser notificada por e-mail tão logo eu responda aqui o seu comentário. Você pode checar se está sendo notificada? Dá uma olhada na caixa de spam.
      Quero muito ler esse comentário desaparecido: você está se referindo àquela foto da burca no facebook? De que mulheres você está falando, o que elas deveriam reivindicar e qual a covardia de adesão, a que causas? Aguardo você. BEijo.

  6. Alô Márcia, respondi ainda pouco pelo face, você viu. Não consigo abrir meu Facebook no meu celular , so6no da Ana. Ela tem o meu Facebook porque o celular antigo já nao acessava mais nada.Li rapido5o que você postou, vou procurar o texto. Entendi que é cultural, religioso, mas tem muitas mulheres nesses países que lutam por está libertação. Quanto à castracao feminina , ja existe também luta para que tal prática se extinguir. Tem até uma modelo famosa, castrada, que levanta essa bandeira. Talvez eu esteja etnocêntrica

  7. ALÔ Márcia, fui no seu texto sobre a Salomé e seus sete véus, só consegui ler partes . Texto com letras muito miúdas, por mais que eu tentasse aumentá-las. Li sobre o poema de Kipling, If, já o conhecia. Mas foi ficando impossível ir à diante, não estava nítido. Tive que fazer uma leitura mais que dinâmica, para tentar entender por alto a masculinidade/virilidade, você exemplificou, citou os romanos, mas infelizmente não consegui mais, até porque a luz do celular, por muito tempo perturba a minha visão. Entrei na página da ativista que você indicou, não recordo para escrever correto o nome. Vou seguir daqui, e voltar ao caso da BURCA. Eu não postei a imagem, ela foi postada por um homem, que de certa forma, de modo sutil, já vinha fazendo algumas piadas machistas. Ao me deparar com a foto e, em tom jocoso, dizer que ela era procurada, fui olhar os comentários. Só 4 ou 5 comentários, ou melhor, só escreveram kkkkk, feito por mulheres, as únicas presentes. Não me conformei e expliquei que, apesar de cultural, não deveria ser motivo de riso. Falei dos riscos do não cumprimento desses preceitos, dos castigos bárbaros sofridos. Concluí questionando, o mexeu comigo, mexeu com todas. Sei que talvez muitas mulheres nem saibam nada sobre sharia, e outras práticas que são impostas às mulheres. Mas foi impactante, nem sempre mulher é amiga da mulher e muitas aderem ao movimento até por modismo. Vou parar aqui, tenho mais a dizer, aguarde.

    1. Tania, acho que sem ler o artigo realmente fica difícil eu me fazer entender no meu argumento sobre esse mesmo episódio que você cita, dos comentários das mulheres no caso da burca. Acho que você não encontrará esses argumentos na página da Ayaan não, foi apenas uma referência para situar você em relação à pessoa que ela é e cuja história eu conto messe artigo, onde analiso essa questão da relação das mulheres – das feministas – com a burca. O artigo tal como postei (em fotos – arquivo Jpg) está difícil de ser lido no celular mesmo – trabalho direto no computador e no Ipad. Por isso mandei para vocÊ o link do próprio artigo na revista em que ele foi publicado: como lá é outro formato, você pode usar a lupa e ampliá-lo. Beijo.

  8. Alô Marcia , realmente impossível ler o seu artigo. Algumas páginas estão bastante nítidas, mas a maioria está tremida, embaçada. Fiquei, por instantes até preocupada com a minha visão, porque por mais que ampliasse , maior a distorção. Só fiquei aliviada quando por duas a três páginas, consegui ler claramente o que você dizia. Como sou diabética questionei se a minha visão estava deficitária. Por sorte , li com clareza as páginas que não apresentavam esse problema. Potanto, amiga, não pude acompanhar os exemplos de comerciais, os comentários referentes. Li alguma coisa sobre as variadas interpretações de Salomé, e infelizmente, só. Não posso opinar, vou tentar imprimir e também ver no note book. Beijos, torço para conseguir ler, pois estou muito interessada. Beijos

  9. Marcia, finalmente consegui ler o artigo da Salomé e seus sete véus. Fantástico, você é muito lúcida. Fiquei fascinada como conduziu o pensamento, até chegar à compreensão de como o homem, obrigado a ser erétil sempre e a mulher estigmatizada como produtora desse perigo lascívio , devorador,provocativo, carregando um pesado fardo , para muitas, de estarem sempre, na sombra masculina. A primeira vez que vi uma mulher de burca, foi no aeroporto do Cairo. Confesso que o impacto foi imenso. Depois tive a portunidade de ter em mãos, literatura variada sobre os talibās, relatos de mulheres afegãs, práticas de castrações femininas. Me recordo agora, voltando à viagem ao Cairo, das recomendações que recebemos quanto à roupa que deveríamos vestir, para não provocar os homens e quando fomos ao souk, percebi a agitação que provocamos àqueles mercadores. Minha amiga, foi a Dubai, e teve que se cobrir, integralmente, para que pudesse visitar a Mesquita e orgulhosamente, postou foto vestida à caráter. Normalmente respeito os costumes dos países que visito, mas abdicaria usar o traje. Não entraria na Mesquita. No Cairo, país mais benevolente nesse quesito, não tive esse problema. Mas deixando essas considerações, alguns questionamentos pairam. Preciso refletir, mas de qualquer forma vou lançá -los aqui, ainda no nascedouro. O cara que postou a burca e achou graça , é gay. Muito sociável, piadista, de vez em quando postava imagens , sutis, mas machistas. Deixei passar batido, mas quando vi a da burca, dizendo desaparecida e procurada, fiquei puta. Não fui indelicada , apenas disse que não seria motivo de riso ,explicando as razões daquela imposição e as consequências da não obediência. Eu sei o que as piadas e chistes significam.Freud me fez entender. Agora preciso elaborar essa relação gay e o riso das mulheres, que não foram solidárias com tudo que vivenciei e li. Vou imprimir o texto, para releitura, é muito cansativo ler na tela. Sou mulher do papel, preciso grifar algumas passagens. Fico por aqui. Te aguardo, Beijos.

    1. Entendo o riso diante da mulher de burca e a legenda “desaparecida” como um ato solidário à mulher e contrário à opressão. Não é disso que se trata essa imposição da burca? De fazer a mulher desaparecer? O riso não me pareceu ser “da mulher” mas das leis religiosas que a oprimem. E oprimem.

  10. Essa obrigação do homem ter que ser, sempre erétil, me fez lembrar um acontecimento, passado há muitos anos. Eu estava no ônibus, e atrás de mim, sentados, dois rapazes conversando sobre uma ida a um determinado lugar. O que me chamou a atenção, na fala de um deles, é que ele estava indeciso quanto à sua ida ao evento. Ele dizia para o amigo: tô afim, mas o que me chateia é que hoje não tô afim de mulher. Quero curtir o momento , mas se eu não pegar uma mulher, já viu, né? Esse diálogo demostra ,também , o ter que ser, o que está convencionado, o que a sociedade exige. Tem que ser macho , viril, 24h. Fiz analogia com a mulher e a maternidade, tem que procriar, como se ter filhos, fosse o passaporte para a feminilidade, onde aí, sim, ela recebe o selo de aprovação da sociedade e o selo de que tem útero e vagina. Olha que ainda ouve-se isso, com frequência nesse século. Eu sempre me recordo da minha mãe e é tudo tão natural! Sabia que, vez por outra, mamãe calçava as meias no meu pai? Ele deitava na cama, cruzava uma perna sobre a outra, e dava o pé. Não era obrigação, não era devoção, submissão. Era algo muito natural, um gesto de carinho, uma troca , uma cumplicidade entre eles. Era amor! Até hoje fico impressionada com essa construção de cumplicidade. Tinham muito sabedoria. E assim fui me formando, compreendendo o papel da mulher, muito além do que era o já prescrito. Vi ,na minha mãe a feminilidade e também a virilidade. Eles eram fortes. Levei essa experiência para o meu casamento, mas aí é outra história, porque o parceiro, não era machista, mas tinha uma mãe, que não era fácil. Juntando tudo me lembrei da cabeça de João Batista . Beijos

    1. Tânia, muito boa essa lembrança do ônibus e ótimas comparações. Pressão social por pressão social, ambos (homens e mulheres) sofremos. Entretanto, o que vejo muito como muito complexa é a relação que nós estabelecemos com esses ideias – homens e mulheres. Ninguém é um “reflexo do social” como se acredita; a relação do indivíduo com a cultura é muito mais complexa. Quando analiso essas situações eu as estou vendo do ponto de vista interno, da luta que cada um tem que travar consigo mesmo com as idealizações. Não é bem para provar que tem útero que a mulher é convocada a ser mãe: é a nossa com a feminilidade, e o feminino é muito mais do que “papel” social, assim como o masculino. Bem, e quem espera aprovação social pra fazer o que quer é um prisioneiro, seja lá o social ou o ideal que for. Aí, nós que conhecemos os caminhos que temos que trilhar numa análise ou na vida, como pacientes e como pacientes, sabemos que é uma luta pessoal e intransferível como costumo dizer.

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