[21/05/2013 09:24:37] M: Caramba como você é turrão! São 9 horas da manhã do dia 21 de maio de 2013 e até agora nada, nem um sinal de vida! Não quer mais falar comigo? Já me bloqueou e me mandou para aquele lugar onde os fantasmas habitam, assombrando os vivos, falando sem serem ouvidos? E você não me dá nem a mesa com o copo prá eu me comunicar com você.
[21/05/2013 09:25:49] M: você fazia essa experiência quando era criança? Quando vovô morreu, duas tias puseram prá correr as crianças da sala porque elas iam conversar com o vovô – ou a gente que pensou isso, sei lá. Sabe como são as crianças né? O caso é que nosso quarto ficava bem em frente da sala da casa do meu tio, e lá de casa nós víamos tudo.
[21/05/2013 10:27:33] M: Sabe aquele negócio do copo andar sobre a mesa e o espírito de porco, digo, no copo, vai de um em um? Então, pelo menos as minhas tias falavam com os espíritos na mesa através do copo. Quer falar assim comigo? Quer? Um novo meio de comunicação entre nós?
[21/05/2013 19:34:30] M: Ou é vingança ancestral??! “Vingança é um prato que se come frio” – é isso?
[21/05/2013 19:39:48] M: É isso, Bill? [mudando de Almodóvar prá Tarantino ou de Fale com ela prá Kill Bill].
[21/05/2013 19:41:17] M: Be careful, baby… já pensou se viro a Beatrix Kiddo?
[21/05/2013 19:42:05] M: Você aprendeu com o Pai Mei a técnica dos 5 Pontos que Explodem o Coração? Aprendeu? Então… e você sabe se eu não aprendi? (Lembra desse pedaço do Kill Bill né? Só não me lembro se tá na parte 1 ou 2).
[21/05/2013 19:40:48] M: Bem, vamos deixar o Kill Bill na dele e voltar pro nosso papo – nosso!!! Vê que continuo a sem-noção de sempre. Na verdade, bem pior. Sinto muito te dizer. Imagino que você continue mega interessado na minha vida (ahahah oiiiieee, sou eu, a sem-noção). Mas tive um trabalho intenso prá dar conta de escrever o seu artigo no prazo que me foi dado. No início achei que não ia dar conta. Comecei escrevendo outro.
[21/05/2013 19:43:45] M: mas… desisti. Achei uma covardia com consequências terríveis prá meu equilíbrio psíquico já extremamente precário. Aí tomei a decisão maluca – claro, loucos cometem loucuras: sou uma louca lógica, coerente né? Outra hora te conto o resto. Agora tenho que voltar à nossa “modernidade líquida” e seu jeito “moderno” de amar. Que seja infinito enquanto dure, segundo o poetinha, ou covarde e líquido, segundo o Bauman.
[21/05/2013 19:52:51] M: Já ouviu falar dos cadeados do amor? É uma tradição que não se sabe bem quando nem onde surgiu, um ritual em que o casal apaixonado tranca um cadeado com seus nomes na ponte e joga as chaves no rio. Mudam a ponte, o rio e a cidade ou país (Dublin, Nova York, Londres, Paris, Roma, Veneza, China, Coréia) mas há anos o problema permanece: as pontes quase desabam e precisam ser libertadas de toneladas desses cadeados do amor prá impedir a catástrofe.
[21/05/2013 19:57:31]M: Uma cena do filme de outro espanhol que não o Almodóvar mostra essa tradição. Fernando González Molina fez dois filmes a partir dos romances do escritor italiano Frederico Moccia, conhece? Paixão sem limites (Tres metros sobre el cielo) e Sou louco por você (Tengo ganas de ti). Nesse último (Sou louco por você) o casal Hugo e Gin passeia por uma dessas pontes entulhada de cadeados presos. Gin explica pro Hugo, o homem que encarna o amor apaixonado nos dois filmes: “Dizem que se um casal fecha um cadeado e o tranca numa ponte, lançando a chave no rio, não haverá maneira de separá-los”.
[21/05/2013 20:01:24]M: Captou, meu bem? Fechado o cadeado, jogada a chave no rio, o amor torna-se eterno. Não sei o que você acha, mas tantas pontes prestes a desabar com o peso do amor não combinam muito com a tese de que nossa forma de amar seria líquida, deixando o amor escorrer sem desafiar o conflito. Será que, como as pontes, nós também já não estamos suportando o peso desse amor eterno, aprisionado num cadeado, e vergamos sob o peso da união indissolúvel?
[21/05/2013 20:12:54] M: Notou minha metáfora da ponte prá dimensão transformadora da experiência amorosa né? Como a ponte, o amor também pode ser lugar de passagem, levando os amantes para outro lugar. Nada a ver com aquele amor-sofrimento em Proust, aquela busca de possuir o outro fazendo o amante se sentir completo. Não admira que Marcel, o narrador de Em busca do tempo perdido, fale do amor como “tortura recíproca”.
[21/05/2013 20:17:54] M: Essa conversa – conversa? ôôô mente criativa!!! Bem, essa “conversa” me fez lembrar do meu transe quando você me contou que passou todos esses anos, não, décadas, inscrevendo nossos nomes nas árvores, nos bancos das praças, nas areias dos mais de 40 países pelos quais passou. “Eu tinha 16 anos, amei uma moça altiva e branca, de uma hispânica quietude. Foi a mulher mais linda que vi em toda a minha vida. O nome dela era M., e até hj sinto o gosto adocicado de sua boca”. E assim me apresentou à belíssima Mi vida entera do Borges, da qual nunca mais me separei.
[21/05/2013 21:41:01] M: Eu vi a experiência profundamente transformadora do amor nas cenas finais de Paixão sem limites, quando Hugo fala para o irmão. “Não posso ficar aqui. Não há como voltar atrás. Você sente. E então você tenta lembrar de quando tudo começou. E descobre que começou antes do que você imaginava. Muito antes. É aí, neste momento, que você percebe que as coisas só acontecem uma vez. E, por mais que tente, você nunca será o mesmo. Nunca mais terá a sensação de estar a 3 metros acima do céu”.
[21/05/2013 21:47:07] M: Prá não dizer que tô fugindo do assunto você já imaginou o que o Paulo Mendes Campos não teve que ouvir quando publicou aquela crônica lindíssima, “O Amor Acaba” (1964)? Cujas primeiras palavras são: “O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; (…) no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; (…); em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba”.
[21/05/2013 20:32:55] M: Uma coisa leva a outra e já tô eu aqui com as palavras consoladoras de Myrna na cabeça. Mas pensando bem, mon amour, você não as está merecendo agora. Enquanto isso, uma beijoca prá você.
(Obrigada, Dener Carmo, pela ajuda com o filme!!!)
To be continued…
Como você me dá trabalho… Aprendi a prestar atenção em tudo que você me escreve desde que éramos garotinhas, porque quero aproveitar tudinho, não perder nada! Agora estou na fase da análise da cronologia de suas falas , ou escritos . Como tem números envolvidos no processo , meu cérebro de letras precisa de tempo. Paciência, querida!
ahahahaah criatura, você não existe! Continua comigo e prometo que continuo te dando trabalho – o mesmo que dou desde que éramos garotinhas. E me conta aí essa análise da cronologia – estou curiosérrima! Beijo, querida.
Marcia, que angústia seu texto me provoca, porque fico imaginando quem (se realmente existe) está do outro lado da tela e quem está a escrever as palavras! Mas acho que isso não é importante, nesta conversa (monólogo) está um coração em busca da compreensão do amor- líquido ou passageiro, mas que vale a pena ser vivido! Gostei muito do formato e também das referências, afinal apenas a arte pode nos ajudar!
Olha que interessante Juliana! Você foi direto ao ponto: do outro lado da tela há, sim, alguém muito angustiado e que parece que vai encontrando no humor uma maneira de se proteger (dessa angústia). Coisa típica do humorista, aliás, e do deprimido… Logo, o que você falou está longe de ser secundário, ao contrário do que você pensa. Bom saber que o formato te agradou – e que foi notado!!! Beijo e sigamos (já se inscreveu no blog prá receber as atualizações no seu e-mail?).